quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

NICOTINA

Sentir falta a ponto de dar espasmos
Frio na barriga, sem fome
Congelar seu sangue
Estourar os ouvidos
Retorcer pernas e ombros
Sair por aí voando em um sonho
Dormir novamente ao lado
Numa calçada de cogumelos
Abrir os poros, insinuar
Um chuva ácida no céu da boca
Ser primeiro e último pensamento
Não dormir por conta de um porre seu
Insônia materializada na almofada
De afastar querendo perto
Mas nem sei se isso é certo
Te amar ou morrer...

É pequena
Seu nome tem oito letras
E me mata de saudade a falta...
Perdi vinte "quilos" da alma
Luto contra próprio desamor
Meus músculos são de vidro
Minha força é a dor
Meu sangue em turbulência
Oxigênio rarefeito
Vista era azul, jas cinzenta
Aos estalos dos dedos fissuras
Insetos pelos meus ouvidos
Atadura por todo corpo
Personificação do fracasso
Eufemismo da depressão
Metáfora de belos romances
Que em sonho eternizou
Morte ou lamúria
Drama ou franqueza
Um duque sem realeza
Esperança desandou.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Ruínas

Por dentro desmorono
Tudo ringe, estático
Gárgulas incendiados
Pilastras as fendas
Um castelo em desabo
Desabafo barulho
Entulhos empoeirados
Teias abandonadas
Ninguém sabe de nada
Civis desesperados.
Quem já esteve nessa construção
E agora passa de mão em mão
Não imagina
O quanto faria...
Faria de tudo
Para que nesse desastre
Não te fizesse parte
Que nenhuma poeira
[De alguma maneira]
Chegaria atingir
A sua estrutura,
Para que suas rupturas
Sequer sentisse abalo.
Deixa reconstruir seu coração
Juras, de evitar decepção.
Por dentro somente escombros
De poesia a parte
Todo caco é arte.
Isso é um enfarto?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Decifra-me

Rua das Rosários
Contramão a minha vida
Se ela é linda?
Eu sei!
Escolheu Arlequim
O doce da vida.
Chá de alecrim
Chás de alecrim.
Essa noite teremos
Chá de Arlequim!
Vou entrar em um sono profundo
Longe da profundidade
Da claridão dos seus olhos.
Eu sou aquele que mesmo rindo
Está chorando. Estão chorando!

domingo, 10 de janeiro de 2016

Campo de Concentração

Ao findo corredor amadeirado
Sinais de que esteve lá
Por cada arame farpado
Enrolasse meu sentimento
Que forte e ferido
Fraco a continuar.
Parar ou seguir
Sorrir ou chorar?
Estrela cadente
Estridente sorriso
É o paraíso que estive lá.
Dançar ou dançar?

Nesses dias de chuvisco,
por mais forte os riscos
Te fui encontrar.

Sentada com pés ao balanço
Um vento manso no teto
Já me sinto perto ou nem tanto
Só quero contigo deitar.
Respirar devagarzinho
Imaginando os seus sonhos
Sonhando contigo
Te sou um abrigo
Ou deixa pra lá!

sábado, 9 de janeiro de 2016

Endereço



Teu endereço não tem no mapa!
O ponto de referência é reta.
É curva impiedosa ao desastre.

Ninguém sabe chegar lá,
Até porque nem tu sabes,
Mas
Já pus os pés no teu alpendre
E tu no tapete do meu quarto,
Poltrona eu sei que há.
O vento sopra meu olhar pra tua esquina
Lado a rua protegida por Zeus,
Quina da Joaquina
Com a rua dos bem-te-vis.

Ninguém sabe chegar lá
Mas
Sei achar sem medo
Coisa que não sabias,
Agora sabiá.

É lá onde meu coração fica
Mas
Ninguém sabe chegar lá.

A carioca

Linda e alva
Risonha, quando quer
Senta, conversa e conta suas histórias
Conta "meismo".
Fala ansiosa e se vira de um lado pro outro
Costuma refletir.
É mole?
Baixinha amada
Olhos de Gueixa
Poetisa viaja
Se diverte com roubos de melancias
Chuva na estrada
Estrada piçarra
Percorre sotaques.
Um grito
Calçada Copacabana
Mais bonita que a garota de Ipanema
Pelo banco do poeta
Se equilibra nas semi-luas
Por onde anda de braços abertos
Bailarina equilibrista.
Se afasta distante
Fumaça de um navio
Impiedosamente, a carioquinha.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Lágrima

Ela inveja aquelas gotas
Transparentes. Translúcidas.
Que descem do céu
Em tempos de chuva
Uma gota tão leve
Tão livre de angústia
Remorsos ou solidão.
Ela inveja aquelas gotas
Ou como elas escorrem
Pelas janelas de vidro
Também como pousam
Orvalhas em flor
Sobre o casal apaixonado
E ao rio Igaraçú.
Ela inveja aquelas gotas
Sim
Pela vontade de viver
De continuar
De seguir
De ser consumida com toda energia
De amor retribuído.
Ela inveja aquelas gotas
Pois, por mais que tente
Não consegue viver
Mora e morre em rostos
Expressão depressão
É melancólica
Dramática
Cai ao mais sincero abraço
Faz soluçar
Nó na garganta
Voz aos entalos.
Ela inveja aquelas gotas
Que não tentam se matar
Que vivem romances
Fazem filmes
Fotografias
Escrevem romances policiais.

Há lágrima. A lágrima.
Haja lágrima.
Me lágrima.


Não. Não. Não.
Não!

Quero ser chuva.
Prefiro chover
Do que fazer chorar.